A Fascinante História do Vinho na Argentina
As raízes da história do vinho argentino mergulham profundamente no período da colonização espanhola na América do Sul. De forma notável, a trajetória do vinho na Argentina está intrinsecamente ligada à do Chile, remontando a 1551. Naquele ano, o frade franciscano Francisco de Cidrón cruzou a imponente Cordilheira dos Andes, vindo da cidade de La Serena, banhada pelo Oceano Pacífico. Ele trouxe consigo as primeiras mudas de videiras da casta listan prieto, que hoje conhecemos como criolla na Argentina e país no Chile, para a recém-fundada Santiago del Estero, a cidade mais antiga da Argentina, carinhosamente chamada de "a mãe das cidades".
Acredita-se que foi sob as ordens do conquistador Francisco de Aguirre, o fundador de La Serena em 1544 e tenente de Pedro de Valdivia, que Frei Cidrón realizou o plantio e a disseminação da vitivinicultura em terras argentinas. Aguirre possuía experiência prévia na fundação da viticultura chilena, tendo estabelecido o primeiro vinhedo do país às margens do Rio Coquimbo (atual Rio Elqui), simultaneamente aos primeiros vinhedos registrados na capital, Santiago del Nuevo Extremo, às margens do Rio Mapocho.
Assim como ocorreu na Capitania Geral do Chile, a expansão da viticultura na Argentina ostentou um caráter eminentemente hispânico. Ela se baseou em diversas variedades de uvas trazidas da Espanha durante os séculos XVI e XVII, acompanhadas pelas técnicas tradicionais de cultivo, produção e adega de vinho, características de Castela e Andaluzia naquela época. Com o passar do tempo, outras variedades, originárias do cruzamento ou mutação de espécies europeias, como o torrontés e o huevo de gallo, enriqueceram o leque das variedades criollas.
À semelhança do Chile, essa forma tradicional de viticultura permaneceu praticamente inalterada durante o período colonial. No entanto, passou por transformações significativas na segunda metade do século XIX, com a incorporação do chamado paradigma do vinho francês na América do Sul.
Foi nesse contexto que, em 1853, seguindo as recomendações do renomado intelectual argentino Domingo Faustino Sarmiento, o então governador de Mendoza, Pedro Pascual Segura, contratou o viticultor francês Miguel Pouget, que já havia se estabelecido em Santiago do Chile.
Sarmiento, que viveu e trabalhou no Chile durante seus anos de exílio, teve contato direto com a fundação da Quinta Agrária de Santiago, hoje conhecida como Quinta Normal, em 1841. Este local desempenhou um papel crucial na viticultura sul-americana, marcando o início da transformação da enologia chilena após a introdução das primeiras variedades de vinho francesas, um esforço liderado pelo naturalista francês Claudio Gay.
Inspirado por esse exemplo, Pouget propôs a importação das primeiras cultivares nobres diretamente de Santiago para Mendoza e San Juan, na Argentina.
Assim como ocorrera no Chile alguns anos antes, a Argentina recebeu seus primeiros exemplares de cabernet sauvignon, cabernet franc, merlot, côt, sauvignon blanc, sémillon e chardonnay, entre muitas outras. Essas variedades foram introduzidas na região de Cuyo, estabelecendo a base dos atuais vinhos finos argentinos. Uma atenção especial foi dada à variedade côt (malbec) da região de Medoc, na França, que encontrou um lar próspero no Novo Mundo, onde pôde florescer e expressar todo o seu potencial através da viticultura e enologia argentinas.
Argentina
Em contraste com o Chile, a cultura do vinho experimentou um desenvolvimento exponencial nas províncias vinícolas da Argentina entre a segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX. Um grande fluxo de imigrantes europeus, principalmente da Itália, Espanha, França e, em menor escala, de países do Leste Europeu, impulsionou a criação e o estabelecimento de um vasto mercado interno. Esse mercado permitiu o desenvolvimento de uma robusta indústria vinícola nacional, elevando a Argentina à posição de principal produtor de vinho da América Latina e um dos maiores do mundo.
Ademais, esse chamado "vinho de imigrante" criou as condições para um consumo de vinho altamente democrático, despojado daquela imagem aristocrática ou elitista que se tornou comum em outros países sul-americanos durante esse período.
Harmoniosamente integrado à culinária mediterrânea dos imigrantes europeus na Argentina, o vinho encontrou um terreno fértil para prosperar e se disseminar por diferentes regiões do mapa federal, mantendo sempre seu centro original e primordial na cidade de Mendoza, a capital incontestável do vinho argentino.
A ampla difusão do vinho argentino durante a maior parte do século XX trouxe consigo um aumento significativo no consumo per capita, que figurava entre os mais altos das Américas, superado apenas pelo Uruguai. Contudo, essa situação não se mostrou particularmente favorável ao desenvolvimento qualitativo do vinho argentino, mas sim a um modelo que priorizou a quantidade em detrimento da qualidade, com foco principal no mercado interno.
Essa conjuntura começou a mudar drasticamente na década de 1990, graças a visionários como Nicolás Catena Zapata, atualmente reconhecido como o principal responsável e o motor da modernização do vinho argentino.
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